quinta-feira, 23 de junho de 2011

A última folhinha verde
Há muito tempo atrás, no Hemisfério Norte, um rei estava muito doente, porém, mais forte do que a doença que lhe consumia, era o profundo desânimo que lhe faltava à alma.
O rei havia desistido de viver.
Sua filha vinha vê-lo todos os dias e tentava animá-lo, relembrando dos bons momentos da vida, mas em vão, ele não reagia.
O rei passava os dias inteiros na cama, olhando para a janela à sua frente e observando uma grande árvore que lentamente perdia suas folhas, por conta do outono que chegara.
Em uma manhã, o rei olhou ternamente para sua filha, dizendo:
__ “Sabe, filha, quando aquela árvore perder a última de suas folhas, terá chegado a minha hora de morrer..."
__Que é isso pai? Que tolice! Por que amarrar o seu destino ao destino de uma árvore?
__Mas o rei não a ouviu, tão absorvido estava em sua melancolia.
A filha compreendeu naquele instante que em alguns momentos, as palavras se esvaziam e não dão mais conta de acender a luz no coração das pessoas.
Assim que o pai adormeceu, a moça entrou no quarto com um pincel e um potinho de tinta verde. Subiu em um banquinho e pintou no vidro da janela, bem no rumo da árvore que seu pai olhava, uma folhinha verde. À medida que o outono avançava e o inverno aproximava, as folhas da árvore desprenderam-se todas e saíram dançando ao vento...
O rei observava cuidadosamente todos os seus movimentos, em especialmente, certa folhinha verde muito teimosa e persistente, que não se movia do lugar e ficava agarrada a árvore, não importava o quão forte fosse o vento, quão enchente fosse a chuva.
A neve cobriu a árvore com um manto branco, e de sua cama, o rei havia atado o fio da vida àquela folhinha verde e continuava olhando-a fixamente, agarrando-se à folhinha verde que o rei atravessou o inverno de sua doença e o inverno de sua alma.
Quando a primavera resplandeceu e outras milhares de novas folhinhas cobriram a árvore, àquela pequena folha verde ficou perdida entre tantas outras, e o rei reencontrou seu ânimo, sua vontade de viver e ficou de pé, como não o persistia há muito tempo
Ao entardecer daquele dia, enquanto limpava a folhinha pintada na janela a filha pensou:
__ “Espero que, algum dia, se o desânimo tomar conta do meu ser, alguém consiga oferecer uma folhinha verde, para que eu possa receber, através dela, a seiva da vida."

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